sexta-feira, 29 de junho de 2007

"2000 miles away" ou Post dedicado a todos aqueles que não me reconhecem atrás destas linhas depressivas ou que acham que o humor está em falta. ( ;-)

Pus PJ Harvey. Não foi para escrever este post. A música induziu a escrita.

(espero fazer-lhe alguma justiça e não envergonhá-la com as confusas linhas que se seguem, cara senhora Polly Jean)

Há um lugar escuro. Muito escuro. De lá tudo é turvo. Os sons entram por paredes grossas e chegam-nos distorcidos. A luz é difusa, baça e diminuta. Nesse sítio, se nos pusermos a pensar, nada faz sentido. É um lugar, embora ele não venha em nenhum mapa, no qual tudo o que nos disseram antes, todas as lógicas que tínhamos interiorizadas, todos os objectos, plantas, animais e pessoas se apagam. É um sítio com muito pouca gente (normalmente menos que duas).
Nesse lugar ficamos sós...
A este de Merzouga, no sul profundo de Marrocos, começa o maior deserto do mundo, mas esse sítio é, em comparação, um lugar cheio de gente: tuaregues em caravanas que o cruzam pelos menos duas vezes por ano. Pelo menos...
Este é o sítio onde toda a gente vai pelo menos uma vez. Pelo menos uma vez estará só. Pelo menos uma vez verá tudo sem a interferência de ninguém. Pelo menos, e por uma vez, verá que algo ou alguém recebe as desilusões sucessivas disto a que chamamos vida. Esse é um espaço de liberdade infinita. O infinito não pode ser tomado em doses moderadas, mas só a partir dele, do vazio, uma raíz pode germinar.
Ouvindo PJ Harvey e reconhecendo os contornos, as ruas e os candeeiros apagados do deserto de onde ela nos canta podemos compreender que é a partir daí que começa a salvação.

Um comentário:

Ibidem disse...

É verdade que não reconheci de imediato o teu lado lunar, habituada ao humor do saudoso "Duas de Letra".

Mas, a pouco menos que "two thousand miles away from you" (1937 km, para ser exacta), serei leitora devota de tudo o que escreves (recorrendo ocasionalmente a um intérprete para perceber analogias que envolvam supercordas ou ultrapassem as três dimensões).

Abraços,

Ibidem